A pancreatite aguda (PA) é um processo inflamatório do pâncreas que se caracteriza habitualmente por dor em abdome superior. É doença prevalente, e que apresenta uma mortalidade global de 10 a 15%, dependendo da gravidade do processo.
Em mais de 80% dos casos está associada com a ingestão de bebidas alcóolicas ou cálculos biliares. Outras causas, são pouco freqüentes.
Causas de pancreatite aguda |
• Cálculos biliares • Ingestão alcoólica • Idiopática • Drogas: azatioprina, diuréticos, estrógenos, sulfonamidas • Secundária a colangiografia endoscópica retrógada ou esfincterotomia • Metabólicas: hiperlipidemia, hipercalcemia, hiperparatiroidismo • Vírus: Caxumba, Coxsackie B, Epstein-Barr • Parasitas: Ascaris Lumbricoides |
A PA deve sempre ser considerada, no diagnóstico diferencial de pacientes com dor abdominal aguda. A apresentação clínica pode ser variada, e é influenciada pelo fator etiológico, idade, e gravidade da inflamação.
A dor é o sintoma mais comum, estando presente em 95% dos casos; geralmente inicia-se no epigástrio com irradiação para as costas, começando sempre de forma súbita e intensa. Náuseas e vômitos são freqüentes.
O diagnóstico costuma ser feito pela combinação de achados clínicos e alterações laboratoriais: a amilase aumenta de seis a doze horas após o início do quadro, com valores três a cinco vezes acima do normal. Índices mais baixos não excluem a PA, uma vez que essa enzima pode se reduzir ou se normalizar entre 24 e 48 horas após o início da crise. Como é mais sensível e específica, a dosagem da lipase sérica tem se tornado o teste de escolha. Essa enzima se eleva 24 a 48 horas após a instalação do quadro, atingindo valores entre três e cinco vezes o normal.
Diagnóstico Diferencial |
• Colecistite aguda ou cólica biliar • Úlcera péptica complicada • Obstrução intestinal • Doença pulmonar • Isquemia intestinal • Rotura de aneurisma de aorta • Infarto agudo do miocárdio |
Além dos exames laboratoriais, o diagnóstico e a evolução da PA é complementado pelos recursos de imagem.
O ultra-som é útil no diagnóstico inicial de cálculos ou de dilatação da via biliar. Uma das principais limitações do método é a ectasia gástrica e a obesidade. A tomografia computadorizada de abdome é o melhor método para avaliar a extensão da inflamação, a presença de necrose, as lesões peripancreáticas e os pseudocistos, podendo evitar, muitas vezes, uma laparotomia exploradora.
A identificação rápida de pacientes com quadros de pancreatite grave é importante, uma vez que esses casos necessitam de internação urgente, em unidades de terapia intensiva. Vários esquemas foram desenvolvidos para auxiliar na identificação desses pacientes. Um dos mais utilizados, é o de Ranson e colaboradores.
Os critérios são os seguintes:
Na admissão
1. Idade > 55anos
2. Leucocitose > 15.000
3. Glicemia > 200mg/dL
4. DHL > 350 U/L
5. AST > 250U/L
Durante as primeiras 48 horas
1. Queda do hematócrito > 10%
2. Aumento de uréia acima de 5mg/dL
3. PO2 < 60mmHg
4. Cálcio < 8mg/dL
5. Déficit de base > 4mEq/L
6. Sequestro de líquidos > 6L
Os critérios obtidos na admissão refletem a intensidade do processo inflamatório, e os critérios após 48 horas, denotam as repercussões sistêmicas da doença.
A mortalidade observada é de 10 a 15%, e não tem se alterado nos últimos 20 anos. Nos casos menos graves é abaixo de 5%, atingindo 20 a 25% nos casos mais graves.
Existem controvérsias em relação ao tratamento das PA, o repouso glandular, a reposição hidroeletrolítica e o controle da dor são de grande importância para o controle da inflamação do orgão e para diminuir as repercussões sistêmicas da doença, devendo se iniciar o mais precoce possível.
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